Ao longo da história da humanidade, sempre houve pessoas com algum tipo de deficiência. Ao olhar para a Bíblia, percebe-se que essas pessoas fazem parte da criação divina, tanto no Antigo Testamento como no Novo. Sendo assim, a igreja é o lugar de acolhimento para todas as pessoas, independentemente se elas têm um corpo perfeito ou não. Estes versículos da Bíblia nos mostram alguns princípios:
“Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?” Romanos 9.20.
Deus, na sua infinita sabedoria e poder, fez toda a criação e continua dando vida até hoje, especialmente às pessoas. Não escolhemos a forma como fomos criados, é Deus.
“Mas Deus lhe dá o corpo como lhe aprouve dar e a cada uma das sementes, o seu corpo apropriado.” I Coríntios 15.38.
Esse texto de Coríntios usando as sementes como exemplo nos ajuda a entender bem que Deus é quem executa a formação do corpo da pessoa, conforme sua divina vontade, assim como, o conhecidíssimo Salmo 139.
Não escolhemos nosso corpo ao sermos formados, não definimos nossa criação. Isso pertence a Deus. Então, precisamos aceitar como vontade de Deus a forma como somos traçados e pensados com todo amor e carinho divinos. Deus não erra, não se esquece de colocar algum membro no nosso corpo, não se confunde e, igualmente não é incapaz de fazer pessoas “perfeitas” aos olhos humanos.
O que facilmente esquecemos é que:
“…o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração.” I Samuel 16.7.
Então, o primeiro o acolhimento que precisamos praticar é aceitar a condição das pessoas, entendendo que todas possuem uma alma e que, como nasceram em pecado, como todos, precisam de salvação, precisam ser alcançadas pelo evangelho.
O segundo passo para o acolhimento é entender que ninguém está livre de passar por limitações físicas que podem ser momentâneas ou definitivas. Portanto, a igreja precisa perceber as necessidades dessas pessoas, seja uma muleta, uma bengala, uma cadeira de rodas, um corrimão…
Um exercício que ajuda muito a entender o que é necessário à pessoa com deficiência é se colocar no lugar dessa pessoa. A partir daí, percebe-se que desde o estacionamento, até a ida ao banheiro, estrutura dos corredores, portas, acesso ao púlpito, às salas, à cozinha, precisam ser caminhos sem barreiras para que todos tenham acesso à locomoção. A construção de um prédio para igreja já deve estar adequada segundo as normas técnicas de acessibilidade (ABNT NBR 9050:20 e NBR 16537:2016), fazendo com que não se precise eliminar barreiras ou adaptar espaços.
O terceiro passo para acolher é ir ao encontro delas e convidar para as programações da igreja. Confirmar que, independentemente de sua condição física, ela é aceita e amada e que Deus tem um plano para a deficiência muito maior do que a própria deficiência. A seguir, um testemunho de alguém que foi bem acolhido:
“Me chamo Lucas. Nasci com um dos pés torto e com uma doença que na época não teve o diagnóstico correto. Durante toda a infância, passei por diversos tratamentos e cirurgias, até que aos 11 anos descobriram que eu tinha um tipo de câncer. Aos 12 anos, passei pela amputação da perna esquerda e aos 13, pela desarticulação total. Cresci tendo contato com o evangelho em uma igreja Batista. Com 12 anos, tive um encontro verdadeiro com Jesus. O fato de ser uma pessoa com deficiência me trouxe uma dificuldade enorme em entender muitas coisas: Como Deus podia ter me criado da forma como sou? Será que Deus podia me amar como eu sou? Será que terei algum propósito sendo assim, ou utilidade para Deus? Essas perguntas foram sendo respondidas ao longo de muitos anos em meu relacionamento com Deus, e graças ao cuidado e amor recebido na igreja onde cresci. Conheci Jesus e dei meus primeiros passos na fé na Igreja Batista em Santa Rosa. Na época, não se falava muito em inclusão ou acessibilidade de espaços físicos. No entanto, o amor e cuidado daquela igreja foram essenciais para que eu superasse todos meus traumas e conseguisse ver e entender o amor de Deus por mim, e como Ele havia me criado do jeito que sou, me amando dessa forma e dando a mim um propósito muito maior do que um menino com deficiência poderia sonhar. Meu sonho como servo de Deus é ver igrejas que pensem em ter espaços físicos adaptados, mas que acima de tudo, amem”.
Aline Coscioni Schach,
Missionária da JEVAM.
Literatura sugerida:
BIBLIA Além do Sofrimento: onde as lutas parecem intermináveis, a esperança em Deus é infinita. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.
DARKE, Brenda. Deficiente: o desafio da inclusão na igreja. São Paulo: Hagnos, 2015.
MELO, Adoniran. Ministério Eficiente: cumprir a missão de Cristo para as pessoas com deficiência. Curitiba: Publicações Pão Diário, 2024.
POSSANI, Lucilene. Mefibosete: a cura emocional na trajetória entre Lo-Debar (lugar nenhum) e Jerusalém (a cidade santa). São Paulo: Ágape, 2017.
Motivos de oração por PCD* físico-motor:
– Sensibilização das pessoas para a necessidade de acessibilidade arquitetônica, por atitudes e respeito ao PCD;
– Acesso aos tratamentos específicos para cada caso;
– Desenvolvimento de projetos e leis que ajudem os PCD;
*PCD – Pessoa com deficiência.
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